sexta-feira, fevereiro 24

O COISAS VAI PARA O NORTE...


...mas volto em breve. Até lá, Bom Carnaval.

quinta-feira, fevereiro 16

COISA do ABRUPTO

Freitas colocou-se em "posição de cócoras" ao fazer uma declaração infeliz, porque incompleta, porque parcial. O embaixador do Irão em Lisboa, Mohammed Taheri, gostou da posição e ... elogiou-a. Já que ele estava naquela posição, o embaixador aproveitou para abusar... comentado as suas contas pelas quais o holocausto deveria estar longe da verdade. Aí sim, Freitas sentiu que a posição de cócoras, além de muito criticada pelos seus pares, deu azo a um "avanço" do Mohammed. Freitas levantou-se e foi ligeiro reclamar junto do embaixador a "vilaneza". O embaixador nem desculpas deverá pedir, enquanto Freitas não organizar os tais campeonatos de futebol euro-árabes, onde os resultados deverão ser previamente combinados para evitar melindres. Afinal as declarações de Freitas do Amaral eram muito piores do que pensava ! [no Abrupto]

COISAS (também na Palestina)

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Recebida por mail...

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Acerca da tolerância...

Será retaliação à decisão do Vaticano que pretende vedar a entrada no Santuário de Fátima aos seguidores de outros credos religiosos? Veremos em breve uma imagem similar na A1?
Aguardamos para ver. Para já, aqui fica o testemunho retirado do site a que refere este link.


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quarta-feira, fevereiro 15

Vale a pena espreitar; uma delícia.

in: T.4you

"As mulheres gostam que lhes digam palavras de amor. O ponto G está nos ouvidos. Inútil procurá-lo em outro lugar". (Isabel Allende)

I see dark clouds out my window
I know the storm is coming any minute
And the thunder just confirms my fears
And I know the tears are in there
I'll be crying unable to stop
Look here comes the very first drop
'Cause every time it rains
I fall to pieces
So many memories the rain releases
I feel you... I taste you
I cannot forget
Every time it rains... I get wet" (Ace of Base).























Olha, Isabel, tu és uma gaja porreira, notável não só pela tua ascendência, mas também (e sobretudo) pelos livros que escreves, mas, desculpa, quanto à tua vida sexual, estamos conversadas.
Na volta, pensas que o "I get wet" dos Ace of Base é só por causa da chuva...
Aprende, Isabel, aprende:

"Consigo masturbar-me até ao orgasmo num minuto.

Com o meu marido leva pelo menos 15 minutos de manipulação experiente.

Não sei porquê, mas sempre foi assim comigo."









Maria dos Anjos, 61 anos, reformada

Mas, para tua melhor compreensão, eu repito e repetirei:

Como dar a queca perfeita... (ver o artigo completo aqui)

terça-feira, fevereiro 14

segunda-feira, fevereiro 13

O estofo do Nacional


A U. Leiria deu um bailinho da Madeira ao Nacional, ganhando por 4-1. Habituado a situações difíceis, Jorge Jesus assumiu a equipa no 16º lugar da Liga com apenas 2 pontos em 5 jogos e agora, 17 jornadas depois, já é 8º com 31 (depois de nas últimas duas jornadas ter jogado com Benfica e Nacional).

A goleada imposta pela equipa leiriense vem confirmar a quebra do Nacional, que nada ganhou com a guerra que Rui Alves abriu com o Sporting.

O que ficou hoje provado é que a formação madeirense - terceira derrota consecutiva (Sporting/Liga, Benfica (Taça de Portugal) e U. Leiria (Liga) - não é definitivamente do campeonato leonino.

Entre o Sporting, que venceu em Setúbal por 2-1 apagando a má imagem deixada na Taça com o Paredes, e o Nacional estão agora 4 pontos de diferença. Os leões confirmaram que têm estofo para lutar pelo título enquanto a equipa de Manuel Machado começa a precisar de provar que a luta pelos primeiros lugares da tabela classificativa não foi uma situação conjuntural. A seu tempo se verá..


Autor: SANDRA LUCAS SIMÕES in OPINIÃO-Apanhados na Rede-Jornal Record
Domingo, 12 Fevereiro de 2006

quinta-feira, fevereiro 9

O Perú (inchado) Rui Alves

Depois dos frangos do Ricardo, a sala de troféus do SCP acaba de receber a oferta de um exemplar de perú Inchadus Rui Alvius papagaios, espécime autóctone da Região Autónoma da Madeira, caracterizada pelas suas vocalizações ao bom estilo dos papagaios. O belo exemplar foi caçado pelo defesa Caneira e oferecido pelo avançado leonino, Ricardo Sá Pinto, ao clube.

Fontes bem informadas e próximas do coisas, asseguram que Caneira e Sá Pinto poderão vir a ter sérios problemas por caçar fora da época de caça, estando descartada a hipótese de processo movido pelas Organizações de Protecção dos Animais, já que o animal em questão não se encontra em vias de extinção. Os responsáveis pelo Couto de Alvalade sairam em sua defesa e já vieram a terreno afirmar que o bicho foi abatido no interior da sua área privada.

Polémicas à parte, aqui fica, em primeira mão, uma imagem do exemplar.

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Sá Pinto II (O Caçador de perús)



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Sá Pinto I



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Vai-te catar, Bill

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Em Portugal - «O miúdo que perguntou a Bill Gates como se fica rico». Fábio tem 13 anos, é futebolista do Alcochetense e o milionário mandou-o fazer aquilo que gosta...



Que raio... eu faço aquilo que gosto e não há meio de enriquecer...

terça-feira, fevereiro 7

sábado, fevereiro 4

Cenas tristes (O Irmão do Conde)

Lisboa – Benfica, fim de tarde do Inverno de 1989, Av. Tenente-coronel Ribeiro dos Reis.

- O trânsito não facilita nada… mais rápido ou perdemos o tipo.
- Calma que não vale a pena bater, senão é pior a emenda que o soneto.
- Raio, estes tipos não se mexem. Viste a matrícula? Nada só vi que era um Uno.
- Só faz azelhices o tipo, lá vai ele... palhaço!
- Esquece isso e não percas o tipo do Mercedes. Esse é que interessa.
- Vai ali, vai ali… entrou na Reinaldo dos Santos. Se entra na Segunda Circular, podemos dizer-lhe adeus, nem a matrícula lhe tiramos.
- Vou ligar as rotativas, atenção ao cruzamento, está vermelho.
- Dá-lhe uma “gaitada” que eles andam cegos… sai da frente pá, não vês os “pirilampos”?!
- Passámos, dá-lhe gás que ainda o estou a ver, vai mesmo para lá.
- Esta treta não anda mais… primeiro que desenvolva!
- Entra, entra, que o estou a ver. Entra e encosta tudo à esquerda. Se vai para a A-1, nada feito.

O velho e pesado Opel 2004 arrastava-se ao longo da Av. General Norton de Matos em perseguição do Mercedes 200 que tinha de ser interceptado antes de sair da área de acção do carro-patrulha (CP). Atrás de nós uma nuvem poluente despejada pelo escape, composta pelo menos de 50% de diesel mal carburado, 40 de óleo e a percentagem restante de difícil diagnóstico, formava uma cortina preta, certamente tão visível a partir do espaço quanto a Grande Muralha, retirando a visibilidade de quem nos precedia. Não fora a fumarada causada pelo combustível fóssil e qualquer um diria que era um veículo da Era dos Flinstones (a começar nos buracos no chão do mesmo e passando por outros que me escuso a comentar, este em tudo se assemelhava). O condutor do Mercedes aumentava a velocidade e a custo o charuto rodava, melhor arrastava-se na sua peugada, com a sirene ligada. Esta, além de ser abafada pelo ronco do motor Perkins, tinha um dos tons avariados. Desta forma, em vez de fazer o clássico Tii-Nóo-Nii, só debitava uns tímidos e afeminados agudos, “Tii” e “Nii” já que, o grave “Nóo” há muito que deixara de berrar. Como se não bastasse, aqueles apitos amaricados eram abafados pelos indescritíveis ruídos que saíam da lata da nívea. Realmente, ainda hoje questiono qual a força oculta que punha aquele cancro em movimento e qual a divindade que o ressuscitava sempre que lhe era encomendada a alma ao criador.

Apesar de ter sido uma autêntica corrida Lebre versus Tartaruga (sem quaisquer desprimor para os pachorrentos anfíbios), depois de guinar por entre os atónitos utentes da via, que ficavam basbaques a mirar o serpenteado preto que íamos deixando pela via, aproveitando uma fila de trânsito, aliás uma das crónicas filas da Av. General Norton de Matos, lá pusemos a lata a par do reluzente e garboso 200 fazendo sinal ao condutor para sair na próxima saída à direita e deter o carro. Isto claro, acompanhado de efusivos gestos com os braços, feitos pelo chefe da viatura e pelo tripulante, atrás deste. Tinha de ser assim pois os vidros do lado direito há muito que não abriam. Imobilizadas as viaturas, o condutor, visivelmente agastado com a algazarra e aparato, fuzilou-nos, melhor, metralhou-nos com o olhar e pela cara que fazia, dizia algo para a senhora que seguia ao seu lado que deduzo seriam palavras nada abonatórias para as nossas pessoas.

- Boa tarde Sr. Condutor.
- Boa tarde?! Vou aqui cheio de pressa e vem para aí com Boa Tarde? Fiz alguma asneira? Se fiz, deixe-se de sermões; disso e de vocês estou eu farto. Faça o favor de se despachar a passar a multa.

O indelicado homem (confesso que perante esta atitude, estou a ser benevolente), tinha uma visível aversão a polícias, resultado de alguma má experiência anterior com a autoridade o que acrescia de uma soberba directamente proporcional a um pavão em plena corte e má educação q.b. Por várias vezes o “afectado” se intitulou irmão de um Duque, famoso da nossa praça e familiar directo do titular ao trono da Nação, coisa que pouco nos tocava a nós, simples assalariados da República, apontando para o brasão da Monarquia Portuguesa aposto na traseira do automóvel. O arvorado do CP, impávido e sereno, talvez anestesiado pelos gases de escape da viatura, habituado a coisas bem piores, fitou o homem com a maior das calmas do mundo enquanto este desfiava um rosário de queixas, lamúrias e um sem fim de barbaridades. Vendo que os polícias nada faziam nem se lhe respondiam, ao fim de uns bons minutos, lá fechou a torneira das prosápias e parou a verborreia descabida. Nesse momento, até o ruído estrondoso do avião que nos sobrevoava em direcção à Portela parecia o suave canto de um canário.

- Já terminou? – questionou o Alves.
- Qual é o problema? Multa-me, diz o que fiz de mal ou vai ficar aí especado o resto do dia? Veja lá se decide que já estou atrasado que baste! Não basta furar a merda da roda, agora ainda tenho de levar com vocês. Não tem mais nada que fazer? É por ter um Mercedes, é? Diga lá qual é a multa e despachamos já isto. Cambada de incompetentes, vêm da parvónia armados em autoridade… nem falar sabem. Está bonito este país!...
- Bem, já que insiste, vou então autuá-lo… por não possuir o triângulo de pré-sinalização de perigo no veículo.
- É mesmo isso? Ora vejam lá – o irritante sujeito dirigiu-se à mala do carro, abriu-a e começou a remexer o interior – está aqui, vai ver. Não queria mais nada, não? Está aqui, meteu os pés pelas mãos…

Ao fim de muito rebuscar e remexer, o homem, lívido, com os olhos esbugalhados e as narinas dilatadas, tal era a dificuldade que tinha em expressar o que lhe ia pela alma, contornou o carro e dirigiu-se à mulher que inicialmente o acompanhara e incentivara a invectivar-nos, mas estava agora mais calada que um rato.

- O triângulo? Onde meteste a merda do triângulo?
- Na estrada, atrás do carro, onde mudaste a roda – a mulher enfrentou-o com semblante ofendido.
- E porque não o puseste outra vez dentro do carro?!?!... gritou o colérico infractor.
- Porque me mandaste entrar dentro do carro e disseste para não fazer mais nada.
- Agora vou ser multado porque não tenho a porra do triângulo. Além disso tenho de encontrar um sítio onde possa comprar outro. Só me arranjam destas.

Dirigiu-se ao Guarda Alves, de documentos em punho e este, em poucos instantes identificou o furibundo homem que não se calava.

- Não pode ser só pelo triângulo, eu sei. Mas não vou pagar, não vou, não. Eu tinha o triângulo e esqueci-me dele lá atrás – enquanto dizia isto, o Alves devolvia-lhe os documentos.
- Não vá lá; não vale a pena, é tempo perdido.
- Tem medo que eu conteste a multa, não é? E que leve testemunhas a tribunal a dizer que tinha o triângulo, lá onde mudei a roda, não é?
- Podem testemunhar, não me oponho, mas também testemunharão a nosso favor.
- Pois, “amiguinhos” pois, pois!!... Sei como isso funciona.
- Não, nada disso. Se tivesse calma há muito que já teria passado Vila Franca. O que se passou foi que essas pessoas viram-no arrancar com o carro e esquecer-se do triângulo na estrada. Depois, viram-nos passar, alertaram para o facto, indicaram o seu carro ainda ao fundo da rua e nós só viemos no seu encalço para entregá-lo ao dono. Foi por esta simples razão que o mandámos encostar – presenteou-o com uma irrepreensível continência, desejou-lhes um resto de bom-dia, entrou no carro patrulha e rematou antes de bater a porta do CP – Ah! Olhe que tem quinze dias para pagar a multa ou então deixe seguir para tribunal. Não se esqueça de fazer pisca quando arrancar, que não o fez quando foi mandado parar. Passa desta vez. Boa viagem.

O Nobre irmão do Conde, ficou ali, de pose perdida, braços caídos, a ver o CP partir. Numa mão a multa e na outra o triângulo que lhe deu origem.

quinta-feira, fevereiro 2

O SERGINHO (Parte I)



É sempre uma sensação boa quando no nosso mister conseguimos atingir os patamares e objectivos a que nos propusemos. O moral é elevado e as coisas parecem rolar sobre carris, esquecem-se pormenores que em situações mais adversas são motivo para deitar abaixo mesmo o mais dedicado dos trabalhadores e ao final de cada dia sentimos que, mesmo que incompreendido, o dever cumprido é sentimento que culmina esse mesmo dia. Naquela manhã, eu era a imagem do polícia realizado, acabado de entrar na Secção de Justiça (SJ) do Comando de Lisboa, uma das prestigiadas subunidades da Polícia da capital e que fazia parte dos sonhos de futuro de uma maioria substancial dos agentes da Corporação. Para além do facto de nas brigadas se actuar à civil e poder-se assim realizar um trabalho continuado e sistemático sobre casos mais complicados de delinquência e crime, ali sentíamo-nos de certa forma na pele dos mais destemidos e perspicazes detectives de série de TV. Era por assim dizer, salvaguardadas as devidas distâncias e realidades, um “Hill Street” à portuguesa. Ao contrário de hoje, a lei de então deixava muito pouco campo de manobra para a investigação criminal no seio das forças de segurança pública, trabalhando estas com base na prevenção, no imediatismo das ocorrências, flagrante delito e pouco mais. Obviamente, as vantagens que tinham (e continuam a ter) os agentes trajando civilmente eram a actuação revestida do factor surpresa escudado na falta da farda a qual tem efeito dissuasor para as actividades ilícitas nada desejável naquele tipo de serviço e a movimentação mais discreta entre a população.

Inicialmente fui convidado para integrar as equipas da SJ como motorista das brigadas o que me dava a possibilidade de rodar pelas muitas equipas que compunham o Departamento e dessa forma rodar por todo o Distrito de Lisboa e apurar os métodos, técnicas e procedimentos policiais que habitualmente não se aplicavam nas tradicionais Esquadras e serviço de patrulha. Depressa fui confrontado (e de que maneira!) com a realidade das mais diversas actividades delituosas mas uma delas, a que alguns apelidam de “arte”, caracterizada pela destreza e método sub-reptício que os “artistas” usam na sua consecução, que é tão simplesmente o furto subtil, praticado por esse esfaimado espécime urbano que ataca bolsos, malas e afins, à laia de parasita protozoário que “alivia” a sua vítima dos haveres pessoais e que todos conhecemos por carteirista (carteiros, na gíria policial), sempre me chamou a atenção.

Ao fim de duas semanas na SJ, já todas as rotinas da viagem casa – trabalho e vice-versa estavam gravadas na minha mente assim como já estavam memorizadas as imagens, nomes e áreas de acção de umas boas dezenas de “carteiros” em actividade na cidade. Entrei no metro na Estação do Colégio Militar e fui-me encafuando por entre a turba de gente que àquela hora se dirigia para a Baixa da cidade. Estava fresco lá fora mas a carruagem fazia lembrar uma imensa sauna, pejada dos mais variados aromas que iam do corrente after-shave barato ao subtil Cardim, passando claro pelos tradicionais e sortidos cheirinhos a sovaco e sulfato peúga sem esquecer o resultado dos alívios irritantes das flatulências de alguns mais descuidados. Bem vistas as coisas sempre era o meio mais rápido de chegar à Baixa e a pituitária lá tinha que sofrer estes apertos em solidariedade com outros igualmente dolorosos de pés, apalpões, esfregadelas, enfim, tudo aquilo que faz parte de uma viagem de metro em hora de ponta. Em cada paragem numa estação era aplicado o velho princípio, típico de todos os metropolitanos, do “cabe sempre mais um” e ao cabo de duas ou três estações já me encontrava literalmente espalmado contra o vidro da porta oposta à entrada, rezando a todos os santos para que o maquinista não tivesse a infeliz ideia de abrir as portas do lado errado. Chego a equacionar a hipótese (meramente académica, eh!eh!) que hoje, com a idade que tenho, posso vangloriar-me da minha falta de barriga, graças ao facto de durante todos estes anos andar metido dentro daquele espartilho colectivo. Na posição incómoda em que se viaja nestas condições, os breves minutos passados dentro daquele cúbico subterrâneo, levam-nos a fazer as coisas mais diversas. Há quem durma, aproveitando o facto de ir enfaixado entre os seus pares e assim repor alguns minutos de descanso perdidos pela necessidade de madrugar, outros dedicam-se à leitura dos diagramas da rede de transportes, miúdos e graúdos deleitam-se com os prazeres de escarafunchar as fossas nasais, fala-se de bola, da vida, apreciam-se os glúteos generosos das meninas dos painéis de publicidade e transferem-se as reacções que elas provocam em reflexos transmitidos às mãos que percorrem, encobertas pelo gentio, os rabiosques das “vizinhas” (quantas vezes “vizinhos”), que ora protestam e assentam umas “latadas” naquele que nem gosta dessas confianças, ou então “manobram” de forma a facilitar o devaneio alheio. Misturado com os sons metálicos da máquina em andamento, um lamento daqui, um ai dali, todos compenetrados lá seguem até ao seu destino onde se precipitam na gare como se de uma lancha de desembarque nas praias da Normandia em 1944 se tratasse.
A dada altura da viagem, alguém se encosta a mim para se desviar da incontornável figura do invisual que a custo tenta evoluir por entre aquela massa compacta de gente. A mole humana, num misto de desagrado e compaixão lá vai dando passagem ao pobre pedinte enquanto o fulano contínua a apertar-me contra o vidro e não alivia a pressão depois de passar o cego. Com a paciência que se exige nestes momentos, tirando partido da minha esguia figura, arranjo forma de me encaixar, ainda mais, de forma a não oferecer o cós das calças (e o seu conteúdo, claro) à possível investida de algum “rebarbado”. Já quase me falta o ar e não há mais nada em que pensar; a viagem nunca mais termina. Mergulho o meu olhar no reflexo do vidro da porta onde vou alapado e observo, de um ponto de vista diferente a floresta de pernas e corpos atrás de mim…


(continua)

SERGINHO ( Parte II )

Usava uma gabardina verde-tropa, dessas com bolsos falsos, para aceder mais facilmente aos bolsos do casaco. Através do reflexo do vidro, além do emaranhado de pernas atrás de mim podia ver o ferro que transportava pendendo na sovaqueira. Tentava recordar-me de algo que sabia importante, mas não conseguia saber o que era. Era importante, mas não conseguia trazer à ideia o que me provocava a sensação de ter esquecido de algo, ou de ter algo para fazer nesse dia. Que raio, a carteira também não era, enfim, sono tem destas coisas. O que fosse lembrar-me-ia quando fizesse falta. Envolto nestas cogitações, eis que vislumbro algo que me retirou deste estado de pré-hipnose. Pelo mesmo reflexo do vidro, vejo uma mão marota, com dois dedos em riste, à laia de tenaz a esgueirar-se tal e qual uma serpente para o interior do bolso direito do casaco. Rapidamente contei - uma mão mais outra mão, são duas mãos - as minhas claro as que me amparavam contra o vidro. Ora, salvo alguma transformação tipo divindade da Indochina, aquela terceira mão não era minha, logo estava fora do contexto; quer dizer, no contexto estava, mas não no certo. Arqueei um pouco mais o tronco para facilitar a vida ao insinuante membro enquanto que calmamente, com a mão esquerda peguei no par de algemas novas que tinha à cintura e aguardei que a presa desferisse o ataque final. Não foi preciso esperar muito já que para azar do intruso a única coisa dentro do bolso era um lenço, por sinal limpinho (sorte a dele) e que não lhe devia fazer falta. O ataque ia agora dirigir-se para o bolso interior do casaco e pelo caminho, aquela mão marota tocou em algo frio e rijo. Os dois experientes dedos tactearam a coronha da Browning e pude ver pela cara de surpresa do marmanjo que insistia em encostar-se a mim, que este tomara consciência de ter metido os “garfos” onde não devia. Antes de ter tempo de retirar a mão de dentro da gabardina, num gesto rápido agarrei-lhe o pulso enquanto que lhe rodeava o pulso com uma das algemas. Quando ouviu o “clic” do fecho das pulseiras o larápio ficou lívido. Na sua expressão lia-se claramente a frase merda! … é bófia!.

- Dás um pio aqui dentro e algemo-te ao varão. Depois o resto da malta que faça o que entender – fui-lhe dizendo calmamente, sem alarme e com a discrição que o momento exigia, algemando o outro par das algemas ao meu pulso esquerdo.

- Eh pá, não faça isso sr. Agente, não é preciso tanto – suplicou o meliante.

- Pois, então mantém-te “pianinho” ou levas aqui uma coça que nem sabes a terra de onde és! – voltei em tom sibilino e disfarçando uma amena cavaqueira com ele – sais comigo agora, no Rossio e vais dar um passeio comigo à Rua Capelo.

- Rua Capelo?! – os olhos pareciam os de um besugo, tal o efeito da palavra ouvida – para a Capelo não! Não pode ser para outra?

Pela conversa vi logo que o artista era cliente da casa pelo que olhei atentamente para a sua cara. Pois é. Era o Serginho, discípulo do Brites, o “Treinador” e companheiro nestas andanças do habilidoso Cardoso, o “Chula”.

Chegámos ao Rossio. Antes de sair, retirei a gabardina de forma a tapar as algemas e disse-lhe que se mantivesse junto a mim, não fazendo ondas. O mariola acedeu, consciente que à mais mínima desconfiança de quem seguia em volta, ele seria o primeiro alvo de alguma vítima da sua ou dos seus pares. O melhor era mesmo sair dali de fininho. Passámos em frente ao Nicola, cumprimentei a Dª Guilhermina que enrolou um bom-dia com meia dúzia de castanhas enquanto do outro lado o Ti Ramiro puxava o brilho ao sapato de um cliente, olhando por cima dos óculos, observando atentamente, como sempre, tudo o que se passava em redor da Praça

- Bom dia menino. Leve lá estas castanhinhas para o Sr. e para o seu colega, para aquecerem logo de manhã.

- Obrigado Dª Guilhermina, quanto é? – respondi.

- Um beijinho cá à velhota é quanto chega; isso é lá conversa prá gente – ripostou a simpática idosa.

Seguimos Rua do Carmo acima, ambos lado a lado, escondendo aquela união metálica que acabara de “unir” os nossos destinos, só com uma gabardina pelo meio, a caminho da consumação dessa união no gabinete do piquete.

Entrei pelo edifício com honras de herói. Tinha caçado o Serginho, tirando vantagem do efeito surpresa, claro, mas ali estava eu, com a presa dominada, sentindo-me um caçador regressado de um safari africano. Foi rodeado de colegas mais velhos eu de imediato me deram os parabéns e não pouparam o Serginho a umas bocas que soavam mais a censura que a gozo.

- Havias de cair algum dia! Perdeste faculdades o quê?!... Olha o Serginho foi apanhado na flagra!... És mesmo “To-Tó”, dar a palmada a um “bófia”! O puto novo apanhou o Serginho!...

O meu ego estava do tamanho do mundo. O Serginho era presa difícil de apanhar já que conhecia todo o efectivo policial das redondezas a milhas de distância.

- É sempre assim. São os novos que os apanham. Parabéns Cruz – o Comissário Pereira, Chefe da SJ, alertado para o acontecimento, viera do seu gabinete dar uma espreitadela – Olá Serginho… vi que ganhaste umas pulseiras novas! Diz lá que aí o Sr. Agente não é um tipo porreiro.

- Essas algemas não são da ordem, pois não. São das boas!... – observou o Pacheco – o puto esmerou-se, viram!

- Pois é, aqui o sr. Serginho estreou uma jóia nova! Não é para todos nem todos os dias. Mas já podem acabar com isso e retirar-lhas, antes que ele queira ficar com elas. Toca a fazer o expediente; vamos trabalhar para ver se ainda vai de manhã ao Dr. Juiz - rematou o comandante, homem de acção e comedido em ironias. Com ele, duas bocas chegavam, nada de massacrar. Dizia poucas, mas boas e isso chegava.

De imediato, levanto-me e começo a procurar as chaves das algemas. Raios, tantos bolsos, onde andavam elas?

- Problemas Cruz? Mau! Querem lá ver que o Serginho te “papou” o cabedal! – gracejaram alguns camaradas.

- Vá lá Cruz, desamarra-te do tipo para a gente ver se o pardalito tem alguma coisa com ele.

- Eh pá! Não encontro a porra das chaves. Acho que as deixei em casa! – respondi.

- Ora, deixa lá isso agora abre mas é as pulseiras que estas chaves são diferentes das nossas.

- Pois, esse é o problema – acabara de me lembrar do que me tinha esquecido - Tenho vindo todo o caminho a tentar recordar-me de algo que me esqueci…

- Problema? Que problema?

- As chaves das algemas estão no chaveiro, com as chaves de casa… e a minha mulher não está lá, foi trabalhar.

Aquela união ao Serginho ficou marcada por uma longa espera. O tempo suficiente para o pessoal da brigada ir comigo ao Areeiro, a uma conhecida casa de chaves, para consumar o “divórcio”.


 

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