terça-feira, agosto 23

Boa Sorte Sporting

Esta noite, joguem bem...



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... mostrem como é...






... e que os Deuses do Futebol estejam convosco.

Perseguição à americana com fim à portuguesa



Tal como me foi "superiormente" determinado, vou passar a postar semanalmente, sempre que seja possível, episódios do meu mister ou relacionados com ele. De alguns desses relatos fui testemunha, noutros interveniente. Outros ainda, são estórias que são verídicas e que numa Instituição daquelas, chegam sempre ao conhecimento da "malta"; claro que mantenho aqui o anonimato dos intervenientes daquelas situações mais jocosas; mas acreditem que lá dentro, a rapaziada não perdoa. Há muito humor neste pessoal; a imagem do durão é só para "os meninos comerem a sopa toda" (diga-se de passagem que no universo caseiro, não resultou nunca); a maioria que conheço (e conheço muitos, acreditem - ehehe) são uns corações de manteiga.

Para não variar, a dica estava certa. Naquela noite, o “dealer”, conforme o informador afirmara, estava à hora certa no local certo. Restava agora a perspicácia, paciência e sorte para que fosse fisgado com a boca na botija. O Bairro da Liberdade adormecido oferecia dentro da sua degradação total um óptimo disfarce para aguardar o “correio” que vinha do sul de Espanha, longe dos olhares incómodos da bófia, em especial dos tipos do giro, facilmente controláveis pela rotineira passagem das rondas em pontos chave. Os espreitas do bairro, quais batedores atentos às movimentações do inimigo, faziam parte do jogo de gato e rato entre polícias e traficantes.

Ficámos a observar. O chefe da equipa, do interior do 131 volumétrico/Abarth, estudava os movimentos do “mafioso”, longe do campo de visão deste, através do contacto rádio de uma outra brigada, estrategicamente colocada no interior da caixa de uma velhinha Transit, de vidros espelhados e pintura desgastada, ao lado da qual o meliante estacionara. Via rádio, um dos elementos da equipa sussurrava os pormenores da viatura alvo, de forma quase imperceptível, para não levantar suspeitas. Claro que as forças para falar com “vontade” não seriam lá muitas; eram cerca de 23H00 e estavam ali dentro daquela lata desde as 14H00, sem comer, beber, tossir ou mesmo mexer muito as pernas, de forma a não dar nas vistas. Incómodo, sem dúvida, garanto eu, mas imaginem a quantidade de coisas que, mesmo que se vá prevenido antes, dão vontade de fazer dentro de um espaço exíguo como aquele, que vão das necessidades mais básicas da fisiologia humana, à obrigatoriedade de comunicar unicamente por gestos ou por escrito. Não esquecer que nos inícios da década de noventa não havia toda a panóplia de meios de comunicação pessoal, com jogos extras e mensagens, bem tudo aquilo que agora nos inferniza a privacidade. Estava-se no advento dos jogos de tetris que, além de muito caros, quem os tinha, não conseguia tirá-los facilmente da esfera do poder dos seus petizes para queimar o tempo nestas longas esperas!!... Mas vamos à descrição da máquina do bandido. Sem dúvida, uma máquina de sonho. O Honda Prelude 4wd (brinquedo com quatro rodas direccionais), era um adversário de respeito. Os seus cento e muitos cavalos de potência não eram algo que preocupasse os quase 130 do Fiat, mas sim a mobilidade que aquela bomba esguia, de tracção dianteira e toda uma panóplia de inovações tecnológicas, por certo, bem mais jovem que o velhinho tracção posterior, que soprava a cada aceleração mais puxada e que fazia baixar o ponteiro do tanque de combustível. O bicho comia uma média de 22 aos cem, mas nunca deixara a malta envergonhada.

Vamos ao que interessa nesta estória. O tipo do Prelude sai e dirige-se à cabina telefónica plantada no passeio contíguo. Fala breves minutos e volta para o interior. Arranca com o carro, imprimindo logo de início uma velocidade digna de Senna (era o piloto da moda nessa altura), lançando o cavalo branco em condução violenta e descuidada pelo asfalto esburacado do bairro, passa a apertada ponte do Tarujo, ladeia o Casal da Sola. Pelas manobras, de imediato chegamos a uma conclusão. O correio alterou o local da entrega. O mais discretamente possível, a equipa do Abarth inicia a perseguição. O suspeito segue em direcção à Rua de Campolide, sobe esta e entra na Rua do Arco de Carvalhão, depois, Maria Pia; no entroncamento da Meia Laranja, sobe em direcção ao Cemitério dos Prazeres, contorna a rotunda e toma o caminho da zona das Amoreiras. Chegados aqui, observamos que um outro veículo, um BMW M-3 Baur faz sinais de luzes ao nosso “amigo” e ambos se precipitam para o interior do estacionamento subterrâneo de uma das torres. Após um pequeno compasso de espera, seguimos também para o interior. Atrás de nós, entra outra equipa que entretanto se juntara na discreta perseguição. Após alguns minutos de espera, saímos dos veículos e não tarda a detectarmos o Honda estacionado entre dois outros veículos. Do BMW, nem sinal de vida. Aguardamos o que a seguir se vai passar. As informações recolhidas já tinham apontado para a possibilidade de as negociatas serem efectuadas no interior de um escritório alugado no edifício. Ao fim de uma hora, um atento e diligente segurança intervém com um dos homens de atalaia. Informa-o que, mesmo sendo polícia, não pode permanecer naquela parte do estacionamento, já que é área reservada a residentes. O cívico identifica-se novamente e “educadamente” manda-o ir dar uma voltinha ao “bilhar grande”; ofendido, o vigilante lança para o seu intercomunicador portátil um relatório, à laia de queixinha, para o seu supervisor. O Chefe da equipa aproxima-se e mete água na fervura. O dedicado guarda do estacionamento, não vai na conversa da bófia, “estrilha” que nem um possesso (ainda hoje lamento não lhe ter dado motivos para chorar a sério) e começa a pedir reforços pelo rádio. Gera-se a confusão e o Comissário “convida-o” a entrar numa das viaturas policiais com um par de pulseiras para se entreter a procurar abri-las. Eis que no meio desta confusão, abre-se a porta de acesso aos elevadores de acesso aos escritórios e saem do seu interior os “negociantes”. De imediato se apercebem que algo não está bem e precipitam-se para o Honda. São seis, mas dois são dispensados dos serviços dos seus cobardes patrões; ficam logo ali, sem resistência, disparando um chorrilho de insultos para com a ex-entidade patronal. Enquanto isto, o Honda faz marcha-atrás, abalroa duas viaturas com o seu generoso pára-choques traseiro, estilo americano, e arranca pelas estreitas galerias do estacionamento. Acto contínuo, o Chefe da missão arranca conduzido pelo experiente motorista. Conseguem alcançar os fugitivos, quase se colam à traseira, mas não há espaço para ultrapassar. Os carros ressaltam nas bandas limitadoras de velocidade. Roda-se nuns vertiginosos 50/60 km/h. Os fugitivos não olham a despesas. Não tirando partido da tecnologia da máquina, de nada valem as quatro rodas direccionais batem em tudo o que se lhes atravessa no caminho. O veículo é mais longo que o “escorpião” que sopra atrás de si e que conta com a vantagem de ter tracção atrás. O Chefe abre então o tejadilho do Fiat, finca os pés na consola e na pega da porta do pendura, encosta as costas à janela do tecto, empunha com ambas as mãos a PPK, apoia os braços sobre o tejadilho e efectua vários disparos na direcção dos pneus da viatura em fuga. De nada vale. Os tipos não se intimidam. O Honda parece ter ganho uns cavalos extra com aquela saraivada de chumbo sibilante e é então que o Comissário começa a gritar com o condutor:

- Mais rápido com esta merda, que está a fugir….

O Motorista acelera, o vacuómetro entra no red-line, a máquina debita toda a sua força aventa-a para as rodas, aproxima-se do Honda e eis que do nada surge uma densa parede de espesso fumo branco que invade todo o campo de visibilidade da viatura policial. Perante isto, o motorista trava a fundo, por milagre não bate em carros estacionados. O Chefe, encolerizado grita, barafusta:

- Os tipos estavam à espera de ser interceptados; têm sistema de fumigação para fuga avance já, basta seguir o rasto de fumo que apanhamos os gajos lá fora. Arranque esta medra; porra, de que está à espera?-grita colérico.

O pobre motorista, desesperado sai do carro e grita – Acabou, não dá mais!...

- Arranque, já disse, é uma ordem, que raio! – tornou o comissário verde de ira.

- Veja se consegue o Sr. – replicou o motorista.

- Eu? Mas quem manda aqui?!?!? É uma ordem, ponha já o carro em andamento. – continuou a disparar o chefe enquanto entrava no carro.

Ao entrar no carro, desapareceu literalmente no meio de uma mancha de fumo branco. Breves segundos bastaram para reaparecer do meio daquele misterioso nevoeiro; D.Sebastião (se aparecer, como reza a história) não fará melhor, estou certo. Olha para o motorista, aproxima-se deste, que se encontra em frente ao capôt e ambos olham estarrecidos para a lata. O dedicado comissário depressa conclui que aqueles furinhos, bem ali na zona do radiador da máquina não deveriam ali estar. De imediato, do alto da sua altivez, defendeu o seu orgulho (e falta de pontaria), escondendo a brecha nele aberta, lamentando a fuga do criminoso e rematando: - Mais um pouco e os tipos tinham-nos limpo, tanto a mim, como a si - disse pondo o braço confortador sobre o desolado motorista. O Escorpião estava ferido, não por outro da mesma espécie, mas por quatro “pulgas” de chumbo com uns meros 10 gramas cada.

Em tempo:

Resta referir que nem tudo acabou mal; o perseguido acabou por ser interceptado à entrada do Viaduto Duarte Pacheco por carros patrulha entretanto informados da ocorrência.

CERVEJODUTO


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Com apoio da UE... quero lá saber de TGV's e Aeroportos.

sábado, agosto 13

TIQUINHO


Pensei que nunca mais veria aquele rapazola de cara reguila, ar límpido de criança estampado na face mas de interior curtido e precocemente moldado a uma vida adulta em demasia à qual tão cedo foi lançado. Velosa tinha o nome de guerra de Tiquinho; o porquê da alcunha, como a maioria das alcunhas, morrerá no segredo e esquecimento da irmandade dos meninos de rua do Funchal, que assim o baptizou. Ao fim de muitas peripécias, rumou ao Continente da República, com destino à Casa Pia, salvo erro.

Foi fácil conhecer a breve história do “chavelhinha” o qual aos seus 12 anos contava no seu currículo um rol de acções dignas de uma versão juvenil do Zé do Telhado. Desde o simples furto de roupa do estendal à inumana exposição do seu corpo aos olhos de repugnantes e prazeres doentios de pederastas em gozo das suas repugnantes férias na Ilha, Tiquinho era um verdadeiro manual do crime, versão de bolso. Toda a sua revolta para com a sociedade, que o rejeitou no mesmo dia em que foi rejeitado pelos do seu sangue, era transmitida pelos seus actos, contra tudo e contra todos quantos representavam essa sociedade, crua, vil que nunca lhe deixou conhecer o verdadeiro prazer de ser simplesmente uma criança. Claro que aqui se incluía todo o “Staff” do colégio onde, desde tenra idade, fora colocado em regime de internato e de cuja clausura forçada fintava à mais ínfima oportunidade. Talvez fosse mais fácil contabilizar o tempo na Instituição por horas fora da mesma, que propriamente os dias passados intramuros; realmente aqui havia um deficit descomunal.

Talvez por nunca o ter tratado como se de um criminoso adulto, não que nunca lhe tenha dado uns açoitezitos nas primeiras intervenções que com ele tive, Tiquinho que conhecia a minha firmeza perante as suas acções, nutria por mim um certo respeito, diria mesmo consideração, por uma vez o ter livrado de um verdadeiro linchamento popular, depois de ter sido surpreendido a aliviar umas caixas de chocolates de uma carrinha de entregas. O meu acto, não direi que foi heróico mas a coisa esteve tremida para o meu lado ao tentar fazer entender que era um menor e de nada adiantaria uma acção daquelas. Perante de uma série de varapaus e até algumas típicas foicinhas de cortar cachos de bananas, os indignados ilhéus, juntaram o facto de estar a tirar-lhes o prazer de umas bordoadas no pequeno à minha condição de “cubano”, imediatamente denunciada na minha voz e por alguns dos justiceiros mais à retaguarda. Até o Tiquinho, que poderia ter fugido no meio da confusão, tal e qual um solidário camarada de armas, manteve-se firme, ali a meu lado e preparou-se para, juntamente com os agentes da lei, vender cara a sua liberdade. Encostou-se a mim, cerrou os punhos de forma ameaçadora e ficou ali, com ar marcial, como que esperando a minha ordem para carregar sobre os seus carrascos. Não sei se foi a surpresa de me ter mantido firme e ter avisado, que ao mais mínimo gesto atentatório contra a minha integridade física, de algum dos meus rapazes e sobretudo do jovem já sob custódia policial, usaria de meios coercivos para com avançasse ou da atitude do “mitrinha” ali a meu lado, certo é que a populaça lá se demoveu de fazer a sua justiça de rua e retirou, limitando as suas agressões a meras palavras insultuosas e promessas de adiamento da “questão” para outro dia. O Tiquinho, recolheu, claro que temporariamente, à sua “prisão”.

Algumas semanas após este episódio, estava eu regaladamente a preparar-me para ir descolar as paredes do estômago com uma boa bifana em pão-de-alho, regada a preceito com umas “Corais” bem fresquinhas, quando aparece, esbaforido, um dos Agentes da minha Secção, o sempre vigilante Gomes que me informa estar a decorrer um assalto a um café próximo dali. Que raios, logo agora que era só descer a avenida até ao “Santinho”, ali na Marina do Funchal e tinha que acontecer logo agora um assalto. Entrei dentro do Croma da Brigada e após duas “bufadelas na cavalagem”, lá estávamos nós, à porta do dito estabelecimento.

Estava escuro como breu. O café, encontrava-se parcialmente escondido pela estrutura de um viaduto recentemente construído o qual tapava a entrada de luz da rua para o interior. Que descuidados que os tipos eram! Tinham deixado a porta escancarada, melhor ainda, as duas portadas. Seguidos os procedimentos habituais em circunstâncias deste tipo, existindo fortes indícios de se encontrar ainda alguém no interior, progredi, junto com a rapaziada, embrenhando-nos na escuridão do café. Do fundo deste, por baixo de uma porta, via-se um feixe de luz entrecortado por sombras de alguém que se encontrava no interior. Pé ante pé, fui-me aproximando, evitando quaisquer barulhos que denunciassem a nossa presença. Eis qual não é o meu espanto quando, a meio da progressão, dou por mim travado por dois tubos de metal sobrepostos de uma caçadeira, contra os quais tinha avançado, entre a cegueira da noite. Gelei de imediato; não teria sequer tempo de ouvir o percutor caso o tipo do outro extremo decidisse mandar-me tratar da contabilidade com o Criador. Num acto misto de medo e desespero, soltei um sibilino e longamente suspirado “Foda-se!”,. Acho que não me urinei porque o caudal de líquidos do meu corpo acorreu em massa para os poros que jorraram mais suor que água o Niagara em pleno degelo. Numa reacção quase instintiva, perante a falta de decisão do meu adversário em fazer-me uns furos extras no peito, rodei ligeiramente para o lado ao mesmo tempo que agarrei os canos da arma, puxando-a para o lado e na sequência lancei-me sobre o vulto que teimava em não a largar. Rolámos ambos pelo solo, fazendo desabar algumas pirâmides de cadeiras, postas sobre as mesas do café. Foi então que gritei – Arma – enquanto alguém accionava o interruptor da luz do estabelecimento. Por breves momentos fiquei sem fala. Ali, debaixo de mim, estava o Tiquinho com ar de culpa assumida misturado com esgares de clemência. O jovem rebelde, em tom de desafio, olhou-me e aventou:

- Vai prender-me Sr. Cruz?

- Deixa-te de merdas pá!... – aventei eu, ainda mal refeito do choque – Tirem-me este “chavelha” daqui, antes que me passe uma ideia má pela cabeça.

Sentei-me por breves instantes; as pernas ainda tremiam, não sei se da comoção, do susto, de raiva, ou talvez tudo isto misturado. Olhei para a porta para a qual me dirigia antes do meu encontro com o Tiquinho. Do interior da arrecadação, saiu um autêntico sindicato de jovens delinquentes, alguns ainda transportando o produto do saque composto por algumas laranjadas, bolos, pastilhas elásticas e outras guloseimas. Os mais atrevidotes tinham feito uma sortida ao tabaco que se transferira para os bolsos dos meliantes. Grandes sacaninhas estes. Os rapazolas saíam de lá de dentro enquanto depunham o produto do saque sobre o balcão e ainda tinham a lata de reclamar para si o direito de pelo menos poder ficar com um macito de Bingo. Grande lata, sim senhor!

Depois de apreendida a arma ao proprietário, entretanto chegado, passado que foi o respectivo correctivo por este, contra o que se encontra estatuído, deixar uma arma de caça no interior de um estabelecimento e, pior de tudo, carregada e pronta a fazer fogo, dirigi-me a um dos carros patrulha onde se encontrava um sorridente Tiquinho. Este, com ar de desafio disse-me:

- Tinha de ser...

- Desta vez é que vais daqui embora...

- G’anda cagaço!...

- Ainda te ris seu sacana!?

- Acha que lhe ia atirar na cara? Nem sei disparar…

- Maluco para isso és tu!

- Não, ao senhor nunca, vi logo quando entrou que era você!

- Não sabias que se te tivesse visto antes poderias ter levado um tiro?

- Pois… se tivesse que ser. Estamos sujeitos, é a vida. Mas a si nunca atiraria.

Acredito, aliás, mentiria se dissesse acreditar no contrário, que não foi pela falta de conhecimento sobre o manuseamento da arma que o Tiquinho não disparou. Antes acredito e vou continuar a acreditar que aquele miúdo, precocemente adormecido dos seus sonhos de criança, despertou naquele momento, mesmo que momentaneamente e mostrou que o seu lado bom estava dentro de si, escondido, mas ainda dentro do seu jovem ser, à espera de se manifestar a quem entendesse ser merecedor de um gesto de gratidão. Porque chego a esta conclusão? Ele tirou-me as dúvidas:

- Você é um bófia porreiro…

Anos mais tarde, enquanto estacionava o carro na zona do Hospital de Santa Maria, ao sair do veículo, alguém, vestido com a farda verde da EMEL, dirigiu-se-me nos seguintes termos:

- Se for por pouco tempo... vá lá que não precisa de tirar o "ticket". Por mim, você nem pagava nada.

Fiquei feliz; reconheci de imediato a sua voz, ainda de criança, com aquele inconfundível sotaque de Câmara de Lobos. Grande Tiquinho, parabéns pá!

112 calling...


Táctica para Portugal - História Verídica ??

Não é bem assim mas...

No outro dia, quando me ia deitar, notei que havia pessoas dentro da minha garagem, a roubar coisas. Quando liguei para a polícia, disseram-me que não havia ninguém por perto para ajudar, mas que iriam mandar alguém assim que fosse possível. Eu desliguei. Um minuto depois liguei de novo:
--- Olá - disse eu - Eu liguei há bocado porque estavam pessoas na minha garagem. Já não é preciso virem depressa, porque eu matei-os. Passados alguns minutos, estavam meia dúzia de carros da polícia na área, uma ambulância e uma unidade do INEM. Eles apanharam os ladrões em flagrante.

Um dos polícias disse:

--- Pensei que tivesse dito que os tinha morto!

Ao que eu respondi:

--- Pensei que me tivesse dito que não havia ninguém disponível.

segunda-feira, agosto 8

CASTELO BRANCO...




Está cada vez mais bonita a cidade de Castelo Branco. Modernices à parte, a velha cidade mantém o encanto da melhor cidade do interior.


Blog para dizer coisas serias a brincar, sem brincar com coisas serias.

segunda-feira, agosto 1

FÉRIAS...



O COISAS, vai de férias. Volto em breve...

...com mais COISAS, ehehe.

Vou de férias, mas não posso ir sem deixar aqui a transcrição desta "pérola" da blogosfera nacional.
Simplesmente excelente...

Dialectos: Lxbôa



Tenho seguido divertido e com interesse o que Vital Moreira vem escrevendo sobre o "lisboetês".

O "lisboetês" é um dialecto não oficial que, cuida quem o utiliza, é, fundamentalmente, chic.
Não é usado, apenas, por lisboetas. Várias pessoas se sentem atraídas, de forma fatal - quando não de forma fatela - pelo dialecto. Eu conheço algumas. Em situação que cuidam de alguma relevância, essas pessoas assumem o "lisboetês" como fonética preferencial. São, geralmente, jovens que se transformam em "xovens", ou menos jovens que se catapultam à relevante posição de "tíus". É como um "ríu" que corresse para o mar das "grandexensações". Entendem? Bom, os de Caxcaish entenderão melhor, presumo.

Isto passa-se, mesmo, com alguns nativos de Vila Pouca de Aguiar, ou de Murça, quando em contacto com seres que consideram superiores, mesmo que seja por habitarem as zonas limítrofes de Chelas. Lê-se "Chêlas".

Em tempos que já lá vão, convivi com duas primas que falavam "lisboetês" convicto. E ainda falam, presumo. Mas assumiam, além dessa, uma outra vantagem na sua esmagadora dimensão comunicativa: frequentavam o Liceu Francês Charles Lepierre, o que lhes fornecia, ao "lisboetês", como que um sufrágio santo de "internacionalidade".
Internacional é o que, em Portugal, se chama aos estrangeiros: um estrangeiro, seja cançonetista ou mimo, é quase sempre uma atracção internacional. Já repararam? Mesmo que seja apenas um inglês de Birmingham, ou um francês do Limousin, é um internacional que ali temos. Mais, mesmo, que um "tipo de fora", um estrangeiro. Claro que se o tipo trabalhar nas obras é estrangeiro mesmo. Nas obras trabalham "monhês", "prêtx", ou "'cranianx", que as vogais do fim e do princípio são para comer. Há muita fome escondida, geralmente, nos adeptos do "lisboetês".

Lembro-me de, por essa altura antiga, com nove tenros e retorcidos anos, já me enervar que me gozassem por abrir os "entes", como em "doentes" e "dentes", e por abrir bem as outras vogais que me ensinaram a abrir. Como em Corgo, por exemplo, que o rio chama-se Corgo, não se chama "Côrgo". E, este era o supremo gozo que levava sempre, este era fatal, por meter a partícula de ligação "i" entre palavras que terminassem (a primeira) e começassem (a segunda) pela letra "a". Como em "límpida água", que me saía (e me sai) sempre "límpidaiágua".

Explicar isto a alguém de Vila Pouca, ou mesmo de Fornelos, que frequente sítios "in", como "pàdóques do Estoril", já é difícil. Explicá-lo a duas moças da Linha que, ainda por cima, frequentavam escolas estrangeiras (com um péssimo resultado no que respeita ao português, evidentemente: a minha Mãe, que era professora, tinha de lhes dar explicações da Língua Pátria, nas férias durienses, porque davam muitos erros em qualquer ditado), resultou impossível.

Já pelos doze anos, quando o buço começa a ornamentar-nos a região supra-labial, escurecendo-a, perdemos-lhes o respeito de vez. Elas vêm de cima para baixo, a gente desfere-lhes cabeçadas de baixo para cima.
Lembro-me da discussão acesa que tivemos, um dia, no carro do pai delas, a caminho de Lisboa. Eu ia num estado lastimável de opressão porque, na altura, a simples visão dos bairros miseráveis de Sacavém e dos Olivais - na sua altitude macabra e esmagadora, para quem ia das berças do profundo Norte- me metia respeito. Caramba: arranha-céus!

No entanto, durante a viagem, as duas resolveram brincar comigo e com a minha ignorância parola de reguense, lavado mas dado a sossegos. Quiseram obrigar-me a dizer Lille, Cannes, Marseille e (pasme-se) Lens.
Eu disse "Lile", "Cánes", "Marselha" e "Lans". Como em "lãs".

Foi uma risota que se estendeu até à frente da viatura, até o motor pareceu esganar-se na delícia da minha humilhação. Explicaram-me tudo, as cabras, até "Marrecei-eh" me explicaram!

Encontrado assim, tão só, no primeiro banco de trás da minha vida, fora dos meus e do meu sossego, cresceu-me a pequena revolta dos pobres que não têm quem lhes valha e têm, nessa ausência de conforto, de se valer de si. O que faz um buço, meu Deus.
Picado nos meus brios de duriense já, praticamente, "sub-pentêlhico", desenrasquei-me. Lembrei-me, graças a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, que as cabras diziam "Paris", como eu dizia. E fodi-as pela primeira vez, tenho a certeza, embora, sendo elas de Lisboa, estas certezas nunca se possuam em definitivo:
- Olhai: explicai-me lá, então, porque dizeis Paris. Não deveríeis vós dizer "Pàrri", ó inenarráveis putas?

O carro seguiu, em marcha lenta e abafada pelo silêncio (que me oprimiu, a mim, mais que a ninguém), até Algés. Que se diz "Algêsh", para quem não sabe.

É que eu, do resto da frase toda, não me lembro bem. Podem ter-me saído outras palavras. Sei lá o que lhes disse! Sei-lhe é o sentido, à frase inteira.
E recordo, sem dúvida nenhuma, a violência daquele "putas", que aqui na Régua se diz "poutas!", quando o parimos com merecida raiva.
Faz efeito, ao menos: cria silêncios opressivos mas pacificadores.

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