O BARQUEIRO
E o barqueiro, olha quem chega, como que a ler-lhes o pensamento...
AVISO:Blog para dizer coisas sérias a brincar, sem brincar com coisas sérias.
E o barqueiro, olha quem chega, como que a ler-lhes o pensamento...
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Lisboa - Bairro Alto.
Da Rua da Rosa à do Loureiro, em tão curta distância, dezenas de janelas mostram uma Lisboa envelhecida a qual vai resistindo, absorvendo durante madrugadas sem fim, os odores da juventude em festa que a invade...Dizem que os olhos são as janelas da alma... as janelas são os "olhos" desta cidade; que triste está a tua Alma, Lisboa! :(
Foi no Domingo passado que passei
à casa onde vivia a Mariquinhas,
mas 'stá tudo tão mudado
que não vi em menhum lado
as tais janelas que tinham tabuinhas.
Do rés-do-chão ao telhado
não vi nada, nada, nada
que pudesse recordar-me a Mariquinhas,
e há um vidro pregado e azulado
onde havia as tabuinhas.
Entrei e onde era a sala agora está
à secretária um sujeito que é lingrinhas,
mas não vi colchas com barra
nem viola, nem guitarra,
nem espreitadelas furtivas das vizinhas.
O tempo cravou a garra
na alma daquela casa
onde as vezes petiscavamos sardinhas
quando em noites de guitarra e de farra
estava alegre a Mariquinhas.
As janelas tão garridas que ficavam
com cortinados de chita às pintinhas
perderam de todo a graça
porque é hoje uma vidraça
com cercadura de lata às voltinhas.
E lá p'ra dentro quem passa
hoje é p'ra ir aos penhores
entregar ao usurário umas coisinhas,
pois chega a esta desgraça toda a graça
da casa da Mariquinhas.
P'ra terem feito da casa o que fizeram
melhor fora que a mandassem p'rás alminhas,
pois ser casa de penhores
o que foi viveiro d'amores
é ideia que não cabe cá nas minhas
recordações do calor
e das saudades. O gosto
que eu vou procurar esquecer
numas ginginhas,
pois dar de beber à dor é o melhor,
já dizia a Mariquinhas.