OUTRAS COISAS DE TIMOTHY BRANROFT-HINCHEY (PRAVDA)
00:09 2004-12-07
CARTA ABERTA DE TIMOTHY BANCROFT-HINCHEY AO PRIMEIRO-MINISTRO DR. PEDRO SANTANA LOPES
Excelentíssimo Senhor Primeiro-ministro Dr. Pedro Santana Lopes,
Em primeiro lugar devo dizer que nestas páginas lhe dei uma folha branca para preencher com as suas acções desde a sua tomada de posse e resisti sempre à tentação de o atacar só por ser um político dum partido de direita, o que provocou uma chuva de e-mails todos os dias de leitores perplexos por causa de eu parecer estar a protegê-lo, criticando muitas vezes os políticos à sua volta mas nunca directamente a si.
Não o critiquei directamente até agora porque eu conheço seus pontos positivos, pois já há alguns anos, quando o senhor primeiro-ministro era Presidente do Sporting Clube de Portugal, respondeu positivamente a uma carta minha, pedindo que meu filho mais velho tivesse uma hipótese de fazer um ensaio, pois o futebol era o que restava quanto às esperanças da vida dele. Graças a si, ele entrou nos escalões jovens do clube, onde passou um tempo muito feliz e o que lhe projectou para a sua vida, agora na Inglaterra, e ligado ao futebol. Na altura eu nunca disse que estava ligado ao jornalismo e por isso o seu gesto merece mais destaque ainda, pois julgava que estava a lidar com cidadãos comuns sem quaisquer poderes na comunicação social.
Poucos meses depois, quando o senhor se deslocava para os estúdios da TVI, na ex-Cinema Berna, em Lisboa, eu estava a atravessar a avenida (Marquês de Tomar), sem me aperceber quem estava por perto, e foi o senhor Pedro Santana Lopes que disse: “Olha o pai do David!” e apertou-me a mão.
Por isso para aqueles que o criticam por ser Pedro Santana Lopes, eu digo que o senhor tem qualidades, grandes qualidades. E digo mais: quantos são os políticos em Portugal, ou em qualquer outro país, que teriam tido a astúcia política de se colocarem em posição para serem Primeiro-ministro, como fez o Dr. Pedro Santana Lopes nas circunstâncias em que o fez? Poucos, ou quase nenhuns.
Para ser honesto, tenho muito pena estar a escrever esta carta agora e não daqui a 14 meses, como tinha pensado. E quando digo pena, digo-o com sinceridade, porque reconheço sua grande vontade de deixar marca como Primeiro-ministro e reconheço que as críticas lançadas contra si nem sempre são justas, pois tem muitos mais pontos positivos do que muitas pessoas imaginam e temos de reconhecer que lhe passaram uma batata política, muito grande e muito quente, numa altura péssima, no início do seu consulado.
No entanto, Dr. Pedro Santana Lopes, me sinto obrigado a escrever esta carta aberta agora, longe da fase final do período eleitoral, por causa da pergunta que o senhor lançou ao país no Sábado passado, nomeadamente o quê é que teria provocado a mudança de atitude do Senhor Presidente da República entre a passada segunda e terça-feira.
Eu sei responder, e respondo já a seguir. Foi uma questão duma tentativa de esvaziar o conteúdo de três gamelas em duas. Primeiro, foi a questão da colocação de amigos e companheiros em posições de gestão pública que habitualmente cria grandes polémicas quando o PSD chega ao poder. Segundo, foi aquela cena da censura, que despertou o interesse de qualquer pessoa ainda com uma faísca politicamente activa em Portugal.
Em terceiro lugar, tinha razão quando fez referência à nova política tributária.
O senhor Primeiro-ministro sabe o que aconteceu? Andaram por aí na praça pública ultimamente um exército de oficiais do Ministério das Finanças, que entraram nas firmas, tiraram os livros e a seguir, fecharam as contas bancárias de um número alarmante de empresas portuguesas, sem ter em conta a necessidade de pagar o 13º mês, sem ter em conta a necessidade de pagar salários, sem ter em conta muitas vezes o facto que estas firmas contaram com estas contas bancárias para pagarem o que deviam aos trabalhadores em ordenados retro-activos.
E o que dói mais, senhor Primeiro-ministro, e o que revolta mais, Dr. Pedro Santana Lopes, é que em muitos casos os gerentes destas firmas – não os donos – só sabiam da situação quando o gerente da conta bancária os informou que estava tudo bloqueado.
Dr. Pedro Santana Lopes, Primeiro-ministro de Portugal, acha bem, na época do Natal, que os trabalhadores, que tanto sofreram mais uma vez sob o jugo dum governo PSD, fiquem sem seus subsídios? (Entre nós há muitos que lembram do pesadelo de estarmos aqui sob os governos de Cavaco Silva, em que altura as consultas de psicologia aumentaram três vezes). Acha bem que o recém desempregado espera até sete meses para receber o primeiro subsídio?
Acha bem que os funcionários das Finanças não expliquem às firmas como resolverem os problemas duma maneira civilizada? Acha bem que a alternativa é retirar os bens das firmas sem dar qualquer prazo de tempo para negociar, antes de bloquear as contas? Não acha que teria sido melhor examinar as contas das firmas e depois agendar uma reunião para estipular um regime de pagamento de impostos devidos? Um processo de debate? De Diálogo? De discussão? (Lembre-se daquela palavra, “democracia”?)
PRAVDA.Ru não tem qualquer conta bancária em Portugal mas se tivesse, estaria tudo em ordem. No entanto, em solidariedade com as firmas que conhecemos que sofreram este tipo de insensibilidade durante uma época socialmente delicada, lançamos um aviso ao senhor Primeiro-ministro: na próxima vez, não pratique políticas de laboratório. E não pense que não lançamos já uma alerta às firmas nos países onde Pravda.Ru é lido.
Como pessoa inteligente, resta só a noção que o Senhor primeiro-ministro, Dr. Pedro Santana Lopes não se apercebia daquilo que estava a acontecer, aliás num ministério gerido pelo seu aliado no PP, Paulo Portas.
Se quiser esclarecimentos, Senhor Primeiro-ministro, e não quiser perguntar a nós, pergunte à Caterine Deneuve. Pode ser que aí tenha a resposta à sua pergunta.
Timothy BANCROFT-HINCHEY
PRAVDA.Ru
Sem comentários:
Enviar um comentário