Crónica do ano
Campanhas políticas – Devido às eleições legislativas, das Autárquicas e das Presidenciais (felizmente ainda em curso), a campanha ininterrupta que atravessou 2005 habituou-nos mal. Certo: lamentamos o barulho, as promessas, o dinheiro gasto. No fundo, gostamos. Mais do que isso, 30 anos de democracia não nos removeram a ilusão vaga e idiota de que as campanhas, e a presumível mudança que lhes está implícita, ainda representam uma possibilidade de salvação, uma esperança de felicidade. Vamos sentir-lhes a falta. Por motivos completamente diferentes, o Governo também.
Cunhal, Álvaro – Morreu.
Gonçalves, Vasco – Idem.
Governo – Em questão de meses, apresentou ao País o rigor orçamental, a modernidade, o Plano Tecnológico, o aeroporto da Ota e o TGV. Pelo caminho, apresentou igualmente vultos como Fernando Gomes, Carlos Zorrinho e o mítico Armando Vara. Não valia a pena incomodar-se: estes nós já conhecíamos.
Incêndios florestais – Uma tradição recente, que tende a acentuar-se quando o Verão não dispõe de uma Expo, de um Euro ou de outra maravilha qualquer. São, portanto, uma espécie de desígnio nacional alternativo.
Lopes, Santana – Naturalmente, as gerações mais novas não acreditam, mas a verdade é que, há 12 longínquos meses, este homem era primeiro-ministro.
Londres, atentados de – Tal como sucedera no ano anterior com Aznar, em Madrid, a responsabilidade coube evidentemente ao governo de Blair, um reles capacho de Bush, e não aos terroristas. Curiosamente, quando, na sequência do 7 de Julho, um imigrante brasileiro foi morto pela polícia londrina, ninguém responsabilizou o sr. Lula ou o ‘mensalão’: a culpa ficou mesmo com a polícia.
‘Katrina’, furacão – Ao contrário do tsunami, uma catástrofe natural que não suscitou condenações aos governos (e aos regimes) da Indonésia, Sri Lanka e etc., parece que o ‘Katrina’ exibiu ao mundo a intrínseca desigualdade dos EUA e a imensa perfídia da administração Bush. Ao que se apurou, nenhum dos sobreviventes envergava a camisola da selecção portuguesa de futebol.
Motins em França – A acreditar nos especialistas, os imigrantes do Magreb não apreciam os bairros sociais franceses e os subsídios de desemprego franceses. A acreditar nos factos, também não apreciam a oferta automóvel francesa. O número de artigos jornalísticos intitulados ‘Paris já está a arder’ foi apenas ligeiramente inferior ao número de carros queimados.
Silva, Cavaco – Salvo melhor opinião, o regresso político do ano. Consta que já ganhou as “presidenciais”.
Soares, Mário – Salvo melhor opinião, o regresso político do ano. Consta que já perdeu as “presidenciais”.Alberto Gonçalves (albertog@netcabo.pt)
in correio da manhã - ed. online de 2006-01-03
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