LIMITES
A maior parte das gaivotas não se querem incomodar a aprender mais que os rudimentos do voo, como ir da costa à comida e voltar. Para a maior parte das gaivotas, o que importa não é saber voar, mas comer. Para esta gaivota, no entanto, o mais importante não era comer, mas voar.
Mais que tudo, Fernão Capelo Ga ivota adorava voar. Como veio a descobrir, esta maneira de pensar não o fazia muito popular entre as outras aves. Até os próprios pais se sentiam desanimados ao verem que Fernão passava os dias sozinho, a experimentar, fazendo centenas de voos rasos.
(CANON EOS 400D - Foto digital - ©COPYRIGHT© de Jó Carvalho ©)
Não sabia porquê, mas, por exemplo, quando voava sobre a água a uma altitude inferior ao comprimento das suas asas abertas, conseguia manter-se no ar durante mais tempo e com menos esforço. Os seus voos não acabavam com o habitual mergulhar de patas abertas no mar, mas com um pousar leve, de patas bem unidas ao corpo. Quando começou a pousar em pé sobre a praia e depois a medir o comprimento da aterragem, os pais ficaram deveras preocupados.
-Porquê? Fernão, porquê? - perguntava-lhe a mãe. - Por que não podes ser como o resto do bando? Por que não deixas os voos rasos para os pelicanos e para o albatroz? Por que não comes? Filho, és só penas e osso!
- Não me importo de ser apenas ossos, mãe. Só quero saber aquilo que consigo fazer no ar, e o que não consigo, mais nada. Só quero saber.
-Ouve lá, Fernão - disse-lhe o pai com bondade. - O Inverno aproxima-se. Haverá poucos barcos, e o peixe das superfícies irá para zonas mais profundas. Essa história dos voos está muito bem, mas sabes que não te podes alimentar disso. Se tens mesmo de estudar, então estuda a comida e a forma de a conseguir. Não te esqueças de que a razão por que voas é comer.
Fernão baixou a cabeça, obediente. Durante os dias seguintes tentou comportar-se como os outros: tentou mesmo a sério, disputando com o resto do bando a comida dos pontões e dos barcos de pesca, mergulhando para apanhar pedaços de peixe e pão. Mas não conseguiu.
“É tão inútil”, pensou, deixando cair deliberadamente uma anchova, que lhe custara bastante apanhar, aos pés de uma velha gaivota que o perseguia. Poderia ter passado todo este tempo a aprender a voar.
E há tanto para aprender!
Mais que tudo, Fernão Capelo Ga ivota adorava voar. Como veio a descobrir, esta maneira de pensar não o fazia muito popular entre as outras aves. Até os próprios pais se sentiam desanimados ao verem que Fernão passava os dias sozinho, a experimentar, fazendo centenas de voos rasos.
Não sabia porquê, mas, por exemplo, quando voava sobre a água a uma altitude inferior ao comprimento das suas asas abertas, conseguia manter-se no ar durante mais tempo e com menos esforço. Os seus voos não acabavam com o habitual mergulhar de patas abertas no mar, mas com um pousar leve, de patas bem unidas ao corpo. Quando começou a pousar em pé sobre a praia e depois a medir o comprimento da aterragem, os pais ficaram deveras preocupados.
-Porquê? Fernão, porquê? - perguntava-lhe a mãe. - Por que não podes ser como o resto do bando? Por que não deixas os voos rasos para os pelicanos e para o albatroz? Por que não comes? Filho, és só penas e osso!
- Não me importo de ser apenas ossos, mãe. Só quero saber aquilo que consigo fazer no ar, e o que não consigo, mais nada. Só quero saber.
-Ouve lá, Fernão - disse-lhe o pai com bondade. - O Inverno aproxima-se. Haverá poucos barcos, e o peixe das superfícies irá para zonas mais profundas. Essa história dos voos está muito bem, mas sabes que não te podes alimentar disso. Se tens mesmo de estudar, então estuda a comida e a forma de a conseguir. Não te esqueças de que a razão por que voas é comer.
Fernão baixou a cabeça, obediente. Durante os dias seguintes tentou comportar-se como os outros: tentou mesmo a sério, disputando com o resto do bando a comida dos pontões e dos barcos de pesca, mergulhando para apanhar pedaços de peixe e pão. Mas não conseguiu.
“É tão inútil”, pensou, deixando cair deliberadamente uma anchova, que lhe custara bastante apanhar, aos pés de uma velha gaivota que o perseguia. Poderia ter passado todo este tempo a aprender a voar.
E há tanto para aprender!
(in: Fernão Capelo Gaivota de Richard Bach)
Fotografia do Autor do Blog, publicada em Olhares.com
2 comentários:
sem palavras...
Eu passo parte do meu tempo a voar. Como é bom!
Li este livro há muitos anos quando ainda era adolescente. E lembro-me que me marcou de uma forma que o tive de reler umas quantas vezes.
É simples mas muito bonito.
Livro obrigatório para almas livres e sensiveis.
Obrigado por me teres relembrado este texto.
Ass:Uma Gaivota Voava
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