Acho que neste momento, mais que nunca, exigia-se a quem está à frente dos destinos do país, assim como aqueles que aspiram a estar, encontrar consensos e as melhores soluções para sairmos deste pântano. Não adiantam nada acusações acerca de quem fez (ou não fez); aí, tenham toda paciência, mas é difícil encontrar quem se encontre isento de culpas ao longo dos anos de Liberdade (pós PREC).
Há muito que o povo vê o diálogo político como conversa mole ou engodo caça-votos; todos se atacam e destroem ideias, sejam elas positivas ou negativas, só pela "disciplina de voto"... porque se tem de votar contra... porque são os outros que apresentam... Já nem falo dos crónicos "bota-baixistas" onde se incluem extremadas opiniões da esquerda mais radical ou ortodoxa (BE e CDU) dos inúmeros comentadores, muitos deles que também passaram por cargos de relevo e/ou decisórios em anteriores legislaturas, agora transformados em moralistas ou velhos do restelo (engraçado que não vejo alguns, caso de Medina Carreira, abdicar de algumas das mordomias e benesses derivados dos cargos que desempenha ou desempenhou, a par da sua carreira profissional, de membro do Conselho Superior dos Tribunais Administrativos e Fiscais, membro do Conselho Fiscal da Fundação Oriente, vice-presidente do Conselho Nacional do Plano, vogal do Conselho de Administração da Expo'98, presidente da Comissão de Reforma de Tributação do Património (nomeado por António Sousa Franco), presidente da Direcção da Caixa de Previdência dos Advogados e Solicitadores e vogal eleito do Conselho Superior da Companhia de Seguros Sagres. Exerceu ainda o cargo de Subsecretário de Estado do Orçamento, durante o VI Governo Provisório (1975-1976), o qual deixou de exercer para assumir, logo de seguida, as funções de Ministro das Finanças do I Governo Constitucional (1976-1978); este é só um exemplo…
Precisa-se coragem para urgentemente se fazer uma reforma a sério no regime. Um sistema presidencialista e mais representatividade directa dos eleitos junto dos eleitores, diminuiriam em muito muitos dos “imbróglios” políticos que nos afectam, assim como ajudariam ao emagrecimento do Estado. Acabavam se de vez as “guerras” das Presidenciais, onde cada vez mais se discutem coisas sem interesse para a resolução dos reais problemas do País e desapareceria uma figura que é, consoante a cor partidária da mesma, meramente decorativa ou “extremamente importante” A nossa Constituição, em toda a sua “perfeição”, não permite que ela própria se renove ou adapte à evolução do Povo que a mesma deveria defender, é ela a culpada de não poder incluir nas opções de regime as convicções Monárquicas (ou outras) que tão “gozadas” são, mas que possuem tanta legitimidade quanto o sistema semipresidencialista que vigora e que a cada 5 anos elege (ou reelege) um “rei civil” que, por mais boa vontade que tenha, nunca será “bem-amado” pelos seus actos (ou ausência deles) mas pelo facto de ser do partido A ou B. Ao menos numa Monarquia Constitucional, o Rei, por mais “Decorativo” que seja, representa a unidade de um povo, e tem mais legitimidade para poder ser uma voz de consenso nos momentos difíceis. A nossa Constituição, foi criada de forma a entronizar uma forma de pensamento estática e desprovida de verdadeiro espírito democrático prático e a mostrá-lo estão as leis que são criadas e que a ela obrigam a constitucionalidade, ou seja, autênticos “pântanos jurídicos” que nem 10 “FMI’s Legislativos (caso existissem), seriam suficientes para reformar.
Já chega! De uma vez por todas, os nossos políticos deveriam reconhecer que o sistema político falhou, que não podemos continuar a pensar e a agir da mesma forma que se pensava há 30 anos. Já não há PREC’s nem perigos de extremismos, sejam eles de direita ou esquerda. Estamos na UE e não quiseram adaptar a Constituição, Leis e Regime Político às novas realidades. Porque geneticamente, os portugueses são avessos à mudança? Porque o “Povo é quem mais ordena”? “Fascismo Nunca mais…”?, etc.?, etc.? Já começa a ser conversa de “mau pagador”; aquilo que geneticamente mais afecta o povo português, é sem dúvida a capacidade e coragem de assunção da culpa, Isso sim é “crónico”. Atribuir ao Povinho a culpa de não procurar a mudança com o voto e ser ele o “responsável” por toda a vergonha e motivo de chacota global em que se transformou o País, é o mesmo que passar-lhe um atestado de imbecilidade pura, porque desde sempre as orientações partidárias foram no sentido de deseducar o livre pensamento político dos eleitores, formatando-os com as “cassetes dos manifestos” políticos de cada facção. É mesmo uma desculpa de “sacudir o capote” e acusar o elo mais fraco, o facilmente atingível e influenciável.
Bem vistas as coisas, não há alternativas possíveis à ordem partidária e a rotatividade democrática trouxe sempre mais do mesmo, melhor, mais do mesmo e sempre a piorar. O crescente número de eleitores que desistiram de exercer o seu direito de voto, porque se cansaram de todas as querelas políticas, é bem a prova que o sistema deveria ser mudado. Acredito que, quem ainda mantém o sistema eleitoral com afluência às urnas, são os novos eleitores que vão votar, e conheço inúmeros que assim se manifestaram, por curiosidade; raramente, cada vez mais, não há consciência política. Vota-se PS, PSD ou em qualquer outra força política, porque há “tradição familiar”, porque a maioria dos conhecidos e amigos votam lá, porque a região é maioritariamente da cor A ou B, e outras tantas razões… a educação falhou também aqui. O “espicaçar” da consciência política por parte do Estado, por conveniência, foi-se diluindo ao longo dos tempos, desde o 25 de Abril de 74. Hoje é raro encontrar-se um jovem que tenha noção do que é realmente a Esquerda, a Direita, o que foram (e o que levaram a elas) as Ditaduras de Esquerda e Direita, etc. é comum ouvirem-se estudantes pré (ou mesmo universitários) dizer “bacoradas” do género: “…o 25 de Abril foi feito pelo Dr. Mário Soares que depôs o governo fascista de Sá Carneiro e do Chefe do Estado, General Spínola… Francamente, não fosse eu contido nos actos e abominar a violência, apetecia-me esbofetear o jovem que ouvi dizer isto, na mesa ao lado da minha, na esplanada das Tílias! Comparo este tipo de observações à das crianças que, à pergunta sobre de onde se obtém o leite, respondem cândida e prontamente: Do Continente, Daaah!...