sexta-feira, março 9

Suicídio de alemão desesperado com burocracia indigna comunidade germânica

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07 MAR 07

Algarve

O suicídio de um cozinheiro alemão na Fortaleza de Sagres, alegadamente devido a problemas com a burocracia municipal na abertura do seu restaurante, está a provocar uma onda de indignação na comunidade alemã do oeste algarvio

Há seis anos que Frank-Peter Marcischewski, 54 anos, solteiro, residente em Portugal há oito anos, enfrentava problemas, primeiro com a construção e posteriormente com a papelada necessária para a abertura do restaurante que decidira abrir em parceria com o seu amigo Horst Schültze, 51 anos, na aldeia de Hortas do Tabual, próximo de Vila do Bispo.
Esta povoação, a meio caminho entre Lagos e Sagres, tem cerca de uma centena de habitantes, grande parte dos quais - à semelhança do que acontece muito naquela zona - são alemães.
Vários amigos que o homenagearam terça-feira à noite disseram à Lusa que na passada segunda-feira Frank dirigiu-se às Finanças e posteriormente à Câmara para levantar a tão esperada licença de utilização do estabelecimento.
Levantara-se bem cedo naquele dia e partiu às 06:30 para um supermercado na Guia, a uma centena de quilómetros, para fazer as últimas compras para o estabelecimento, que deveria ser inaugurado no dia seguinte.
No regresso, deu boleia até ao estabelecimento a Hans Müller, 47 anos, o outro cozinheiro da casa e um dos três empregados já contratados pela dupla de sócios.
Hans garante ter visto nele um homem feliz e excitado perante a perspectiva de concretizar finalmente o sonho da sua vida ao fim de seis anos de construção, burocracias e esperas várias.
«Chegámos por volta das 9h00, tomámos o pequeno-almoço e ele saiu para ir às Finanças levantar a licença, contratar o padeiro e fazer algumas compras», relata o cozinheiro, jurando - tal como os demais - que Frank não padecia de qualquer quadro depressivo.
Pelo contrário, reiteram todos os que o conheciam, andava excitado e feliz. A última vez que a romena Daniela Elena, 36 anos, mulher do sócio Horst, falou com Frank, foi por telemóvel, quando ele estava nas Finanças à espera de ser atendido.
«Falei-lhe do contrato com o padeiro e ele pareceu-me muito bem-disposto», afirma Daniela. O que se passou depois, ninguém sabe ao certo. Daniela só sabe o que ouviu da boca do contabilista da casa, com quem a Lusa não conseguiu falar: nas Finanças ter-lhe-ão dito que não era ali que se entregavam licenças, mas sim na Câmara.
Desde 22 de Dezembro que uma licença de utilização do restaurante «Í» aguardava que alguém a fosse buscar, mas nela não era mencionado o nome de Frank, mas apenas o do seu amigo de adolescência Horst, dono da casa, com quem fizera um acordo de comodato em Novembro de 2005 que na prática permitia a partilha do restaurante.
Surpreendido com a falta do seu nome no ansiado papel, Frank - que mal falava português - terá percebido que não poderia inaugurar o estabelecimento no dia seguinte, como se tinha proposto.
Pegou no carro, percorreu os cerca de 20 quilómetros que o separavam da Fortaleza de Sagres, onde entrou pela primeira vez na vida, a pé, pagou os três euros exigidos na bilheteira como qualquer turista, aproximou-se da falésia e atirou-se.
Testemunhas garantem que gritou muito antes de cair nas águas profundas dezenas de metros abaixo, de onde seria retirado ainda com vida, na mesma manhã, por uma equipa da Marinha.
Morreu pouco depois, devido às lesões internas provocadas pelo embate na água.
Não deixou qualquer carta de despedida, nem falou com ninguém antes do desfecho final: debaixo dos assentos do carro encontraram os 300 euros que não chegou a gastar nas compras que faltavam para a festa de inauguração.
«Isto não é uma festa, é para dizer que o Frank está aqui», observava Horst Schültze à hora da inauguração, terça-feira ao princípio da noite, convertida em homenagem de amigos, apontando o peito.
Nele bate um coração doente que sobrevive com a ajuda de um «pacemaker» e que - jura a mulher, Daniela - mal tem resistido à perda de um amigo feito há 40 anos na Alemanha.
Ali, no único restaurante de Hortas de Tabual, a poucos quilómetros das praias da Ingrina e Zavial, quase meia centena de alemães e portugueses, na maioria gente simples, juntaram-se para recordar Frank, junto a uma foto sua rodeada de flores.
«Houve claramente uma grande falta de sensibilidade da funcionária que atendeu o Frank, até porque segundo o contabilista o restaurante podia abrir mesmo sem o nome dele na licença, que seria posto posteriormente», garante uma amiga portuguesa do alemão, que prefere manter-se anónima.
Na mente de todos estão as complicações surgidas desde que os dois amigos decidiram abrir o restaurante, há seis anos, como os problemas com os estacionamentos, as exigências de insonorização e tectos falsos.
Muitos consideram que houve clara má vontade do município, desde que o processo deu entrada na Câmara pela primeira vez, em Julho de 2003. «Fizemos tudo o que foi pedido, a lei era para cumprir, mas muita gente nos disse que havia má vontade contra nós. Nunca quisemos acreditar, mas agora vem mais isto, já nem sabemos o que pensar», afirma a mulher do proprietário.
Em declarações à Lusa, o presidente da Câmara de Vila do Bispo, Gilberto Viegas, lamentou o sucedido, mas atribuiu-o a um eventual problema de interpretação de Frank-Peter Marcischewski.
«Em nenhum dos documentos existentes na Câmara aparece o nome desse senhor, mas sempre o do senhor Horst, que era o proprietário do restaurante e da casa de habitação que lhe fica por cima», afirmou.
Refutando que a longa espera se deva à burocracia camarária, o autarca atribuiu a lentidão do processo às várias exigências da lei face à complexidade das obras a fazer e das alterações requeridas pelos proprietários.
Gilberto Viegas explicou que a entrada do projecto de arquitectura do restaurante, há quatro anos, tornou exigível a alteração do alvará e da licença de uso, uma vez que inicialmente a construção se destinava a habitação, em nome de Horst Schültze.
«O que fez o processo atrasar é que ele [Horst] não executou a obra conforme o projecto, construiu um jardim em vez de lugares de estacionamento, que são exigidos por lei, e o tempo foi-se arrastando», concretizou, sublinhando que, em 2005, foi a sua intervenção pessoal que possibilitou que se avançasse nas tarefas burocráticas.
Sobre o que ocorreu segunda-feira de manhã, Gilberto Viegas garantiu que a licença de utilização já se encontrava na câmara desde 22 de Dezembro, em nome do proprietário, Horst, mas asseverou que a falta do nome de Frank «nunca impediria o restaurante de abrir na data prevista».
«Era uma questão de fazer um averbamento e daqui a poucos dias o nome do senhor Frank já estaria na licença», disse, frisando que a inauguração poderia manter-se para terça-feira.
Fonte do gabinete da presidência do município reiterou posteriormente à Lusa que «ninguém disse [a Frank] que o restaurante não podia ser aberto na data prevista», uma vez que a licença de utilização estava pronta.
«Ele veio cá levantar a licença e perguntou o que precisava para fazer o averbamento e a funcionária explicou-lhe que era preciso a cópia de um contrato de arrendamento ou alguma coisa que o ligasse ao senhor Horst», disse a mesma fonte, escusando-se a precisar os termos exactos em que a informação foi prestada.
A Agência Lusa teve acesso a uma cópia do contrato de comodato - uma cedência a título gracioso - celebrado entre os dois amigos a 01 de Novembro de 2005, documento que poderia ser suficiente para a inclusão do nome de Frank na licença.
Lusa/SOL

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